quarta-feira, 31 de agosto de 2011

As Crônicas do Gelo e do Fogo - Volume 1: A Guerra dos Tronos

"- Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou perde. Não existe meio-termo."
Cersei Lannister 



É difícil encontrar alguma matéria a respeito desse livro (ou da série de TV homônima) que não faça comparações entre esta coleção de George R. R. Martin e a obra de J. R. R. Tolkien. Não considero essas comparações muito adequadas.

Para começar, os protagonistas de A Guerra dos Tronos não são criaturas detestáveis, como os Hobbits. Todas as personagens da história são humanas e, graças aos deuses, não passam todo o tempo reclamando e chorando igual o Frodo & Cia. Também não temos aquela divisão básica entre mocinhos e bandidos. As personagens foram agraciadas com características mais humanas e, por isso mesmo, se apresentam muitas vezes contraditórias, imorais e até mesmo perdidas, mas sempre com um objetivo bem definido. 

A linha divisória entre os personagens pretensamente "bons" e "maus" é mal definida, tal como acontece na vida real. Enquanto alguns personagens supostamente "dignos" praticam atos de extrema crueldade (ou de desonra), outros, tidos como canalhas, são capazes de demonstrações de bondade (pelo menos quando isso lhes convém).


Tolkien era um estudioso de línguas, tanto que criou uma linguagem própria para elfos e outra para homens, além de uma extensa cronologia que precede os acontecimentos da Trilogia dos Anéis (vide O Silmarillion). Criar esse macro-universo é um feito admirável, mas, por outro lado, a riqueza da história da Terra Média fez com que as personagens não fossem muito exploradas. No geral, nota-se que as personagens de O Senhor dos Anéis são o que John Byrne chama de "bidimensionais", ou seja, desprovidos de personalidade ou características marcantes. Efetivamente, temos que aceitar que Aragorn, Légolas, Frodo e Sam são bons... porque sim. 


Em A Guerra dos Tronos a história é diferente. Como eu disse antes, é muito difícil conseguir conceituar a maior parte das personagens e dividí-las entre boas e más, justamente por causa de suas características humanas: ambição, inveja, ira, ganância, ciúme... Mas uma coisa que o leitor percebe desde as primeiras páginas é que cada personagem  tem motivações próprias, que definem muito bem sua personalidade e sua interação com os outros. 


Ao contrário de Tolkien, George Martin prefere moderar os elementos místicos e priorizar os combates e batalhas (ao menos nesse primeiro volume). Por esse e outros aspectos, a criação do escritor americano está muito mais próxima da obra de Robert E. Howard (especialmente Rei KullConan e Salomão Kane). 


"- Não há na Terra criatura que seja , nem de longe, tão  aterradora como
 um homem verdadeiramente justo."

Varys


Portanto, acho que defendi meu ponto de vista satisfatoriamente e posso passar a discorrer sobre o primeiro volume da obra em si.


A edição nacional reúne os dois volumes iniciais da coleção, o que resultou num verdadeiro tijolo com mais de 500 páginas e com fonte menor do que o padrão nacional. Inicialmente, o tamanho da fonte me incomodou, mas com o tempo acabei me acostumando. E por falar em incômodo, a grande bola fora do livro é a péssima tradução e adaptação do texto. Há erros que infelizmente se repetem com uma frequência muito além do aceitável. O texto usa tanto "leite de papoula" (a forma mais correta) quanto "leite da papoula" (a forma mais utilizada).  A espada dos Tarly se chama Veneno do Coração ou Coração da Morte? Afinal de contas, quais são os nomes corretos?


Quanto à história propriamente, a trama se passa em Westeros, outrora Sete Reinos, mas atualmente unificados em um único Reino, dividido em províncias. O Reino é governado por Robert, da Casa (ou família) Baratheon, que destronou o antigo Rei Aerys, da dinastia Thargaryen. Robert e seu grupo de rebeldes mataram os descendentes de Aerys (exceto seus filhos Viserys e Daenerys) e, com isso, tomou para si a coroa. Posteriormente, o novo Rei desposou Cersei, da Casa Lannister e, juntos, fundaram uma nova dinastia real.


Em Westeros, o Rei dispõe de uma espécie de "primeiro-ministro", chamado de "Mão do Rei". E Robert decide convidar seu amigo de infância Eddard, da Casa Stark, para ocupar o posto, uma vez que seu antigo ocupante, Jon Arryn, havia falecido recentemente.




Eddard descobre que não pode confiar nos Lannister e tampouco nos auxiliares diretos do reino, razão pela qual a vida do Rei corre perigo. Há um mistério por trás da morte de Jon Arryn e, para desvendá-lo, Eddard não tem escolha a não ser aceitar o convite real e se tornar a nova "Mão". 

Este é o ponto de partida para uma trama recheada de intrigas, traições, atos de bravura e vários outros elementos que acabam seduzindo o leitor. Não se sabe se a história se passa no planeta Terra, mas é inegável que o período histórico se assemelha à nossa Idade Média. O Reino é dividido em quatro grandes territórios (ou feudos): Norte, Leste, Sul e Oeste, sendo que cada um deles é governado por seu respectivo "Protetor", ou seja, o chefe de uma grande família (mais especificamente, o senhor feudal da região). As grandes famílias, por sua vez, possuem outras famílias "menores" (menos ricas, com poderio militar inferior e não tão antigas) como vassalas, a exemplo do que ocorria no sistema feudal. 






George Martin aboliu os títulos de nobreza e utilizou apenas o de "cavaleiro" (sor), embora seja  possível supor que os quatro Protetores (Stark, Arryn, Tirell e Lannister) seriam equivalentes a Duques no Reino. O autor criou palavras novas para definir algumas funções de personagens, como os meistres (sábios que reúnem conhecimentos variados, como medicina, astronomia, geologia, história, etc) e septões (religiosos). Também trocou o sir (título de cavaleiro) por sor. Não sei até que ponto isso foi útil, mas o fato é que o leitor precisa ler muitas páginas até entender o que esses adjetivos realmente significam.

Cada capítulo possui o nome de uma personagem, que é o narrador dele, a partir de seu ponto de vista particular. Por isso nem sempre há imparcialidade na abordagem dos fatos e o leitor se sente transportado para o interior da mente de cada personagem, compartilhando  com ela seus pensamentos, desejos e segredos. Essa é uma experiência simplesmente espetacular, já que a variedade e contrastes entre as personalidades das personagens é, sem dúvida, um dos pontos altos do livro. 


Os fãs do gênero de capa-e-espada, bem como, os leitores que apenas gostam de boas histórias, devem curtir muito o livro e, como eu, devem sentir bastante curiosidade para acompanhar a série em live action da HBO, mesmo que essa adaptação não seja tão fiel à obra original.  


Se os deuses forem bons, a qualidade do enredo será mantida nos próximos volumes. 


Assim espero!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Capitão América: O Primeiro Vingador



Sabe aqueles filmes que você espera ver em DVD? Esse era meu plano para essa produção, assinada pelo Marvel Studios. Mas eu realmente gosto de ir ao cinema (pelo menos até ter uma TV de 60 polegadas em casa) e por isso resolvi vê-lo no fim de semana de estréia (ok, eu não tinha nada melhor pra fazer, mas deixa pra lá...).

O fato é que o filme foi uma agradável surpresa. Eu previa um pastiche estrelado por Chris Evans (um ator medíocre, na melhor das hipóteses), com patriotadas ainda mais grosseiras do que as dos filmes do Michael Bay. E por falar no Evans, alguém precisa explicar para esse rapaz que há uma grande diferença entre fazer uma cara séria (própria do Steve Rogers) e uma cara triste (mais adequada para os personagens emos de Crepúsculo). =P 



Para sorte dos espectadores, o Capitão usa um tipo de capacete com máscara, que encobre a maior parte da cabeça e do rosto de Evans, de modo que sua cara de bebê chorão não é tão visível.

Bom, já deu para perceber que a "interpretação" do Evans não é o ponto alto do filme, certo? Então vamos aos aspectos positivos. O filme é bem ambientado nos anos 1940, quando a Segunda Guerra Mundial estava em seu ápice. Os Estados Unidos entraram no conflito, quando finalmente o presidente Roosevelt acordou de seu estado de torpor e finalmente percebeu que, se a Inglaterra fosse derrotada, nem mesmo os E.U.A. seriam capazes de vencer as forças do Eixo sozinhos. 

Do lado dos nazistas, Hitler decidiu criar uma divisão de ciência e pesquisa, responsável por desenvolver armas que seriam utilizadas contra os Aliados. No entanto, Johann Schmidt (Hugo Weaving), chefe dessa divisão, tem seus próprios planos. E eles consistem em utilizar a imensa energia gerada pelo recém-descoberto "cubo de Odin" (uma variante do cubo cósmico?) para criar armas e, com elas, dominar o mundo. Por isso, Schmidt logo "proclama a independência" de sua divisão, que passa a atuar como um grupo separado do restante do exército nazista. 




Os aliados não estão alheios aos atos de Schmidt e, por isso, decidem investir no "projeto super-soldado". Como o próprio nome diz, a intenção desse projeto era elevar ao máximo a capacidade física de um ser-humano, tornando-o um soldado altamente eficiente no campo de batalha. A "cobaia" escolhida para o experimento é o jovem franzino Steve Rogers, um garoto ingênuo e idealista. Essa faceta frágil de Steve nunca foi muito explorada nos quadrinhos, mas no cinema há um amplo desenvolvimento da personagem, o que é muito bom, tanto para  o entendimento da trama, quanto da própria personagem. Aliás, esse filme tem um roteiro muito melhor e com menos furos do que Thor e Homem de Ferro 2


A origem do Capitão do cinema é diferente das versões apresentadas nos quadrinhos, mas  felizmente as mudanças não prejudicaram o filme e até contribuíram para deixá-lo mais "realista" (tanto quanto uma história de super-herói pode ser). Há grandes cenas de ação e em nenhum momento o filme chega a ser cansativo, como TF3. O diretor Joe Johnston soube contar sua história e utilizou muito bem os recursos tecnológicos disponíveis (não, não estou falando do 3D, eu me refiro aos efeitos especiais, como a cabeça do Evans no corpo de um outro ator, na primeira parte da película). 






Senti falta de uma trilha sonora mais "atuante", ou de uma "música tema" para o herói. Mas considerando que o filme é ambientado nos anos 40, as músicas da época não cairiam no gosto do público de hoje e, talvez, essa "omissão" tenha sido mais um acerto do que uma falha.


O Capitão América do cinema se parece muito com sua versão Ultimate, não só visualmente, mas também quanto à sua personalidade e atitudes (basta dizer que ele se utiliza de todo o tipo de arma disponível e não só o escudo). Mas, ao contrário do herói dos quadrinhos, ele não é um grande líder. E apesar de ser uma das características mais marcantes da personagem, infelizmente a capacidade de liderança foi deixada de lado. Nessa adaptação, o Capitão é uma inspiração por seu exemplo, não por seus talentos no comando das tropas.


É um filme divertido e, de longe, superior ao já citado filme do Thor, contrariando as expectativas de muitos (inclusive as minhas). Vale a pena conferir! Nota: 8. 


E para finalizar, gostaria de agradecer a todos os leitores que acompanham o blog. Valeu mesmo pessoal! Vocês são 10!  =)


Sei que deixei muitos artigos e projetos inacabados, mas, na medida do possível, pretendo retomar os customs e os reviews em breve. Aguardem!