Sim, meus queridos, depois de um longo e tenebroso inverno, eis que o trabalho foi terminado!
Cinco longos anos se passaram, nos quais alguns problemas profissionais e pessoais me afastaram desse projeto e do meu hobby. Também houveram diversas dificuldades e obstáculos com a parte de acabamento desse trabalho que QUASE me fizeram desistir. Porém, minha obstinação (ah, quem eu quero enganar?) teimosia e o fato de eu ser um grande cabeça-dura foram fundamentais para repetir a pintura e aplicação de verniz umas quinze vezes em cada peça externa da lataria do veículo.
E a cada tentativa mal sucedida, eu era obrigado a retornar à etapa de lixamento, nova camada de tinta e aplicação de verniz. Assim, um projeto que deveria levar alguns finais de semana acabou consumindo meses e anos das minhas horas livres. Felizmente, porém, eu cresci nos anos 1980 e por isso tive a oportunidade de jogar Megaman, Yo! Noid, Ninja Gaiden e outros games que considero fundamentais na minha formação, pois eles fizeram com que eu me habituasse com a frustração desde cedo. =P
Enfim, nos capítulos anteriores (veja a parte 1 e a parte 2) fiz um breve histórico da peça e do andamento inicial da pintura, após ter de lavar praticamente todos os componentes devido à sujeira e poeira (se eu soubesse no que estava me metendo...). E justamente nessa etapa começaram os problemas.
Eu quis inovar fazendo detalhes em amarelo sobre o capô e atrás da cabine, mas até que eles ficassem perfeitos (ou o mais próximo disso) foram necessárias muitas tentativas de pintura.
Como era praticamente impossível recuperar as calotas cromadas, eu optei por pintá-las com uma cor chamada "prata quebec" (é uma tinta automotiva, isto é, feita para pintura de automóveis reais). Para dar uma disfarçada no desgaste das rodas, pintei-as com um preto liso (o ideal seria substituí-las por outras mais novas, mas considerando que esse brinquedo tem aproximadamente 30 anos, imagino que seria impossível achar peças em boas condições). As rodas foram as peças mais fáceis e uma das poucas que eu não precisei refazer again and again and again...
Com relação aos adesivos (ou decais, como preferem os modelistas), os únicos que eu tinha originais eram os dois do painel do carro. Pedi a um grande amigo (Leandro Koller) que os refizesse da melhor maneira possível, dado o mau estado de conservação dos mesmos. Não ficaram idênticos aos originais, mas ajudaram a melhorar o aspecto como um todo e, como o objetivo no trabalho é customizar e não apenas restaurar, esses novos adesivos cumpriram sua finalidade. Os adesivos do interior da cabine entre os bancos foram adaptados a partir de reprolabels dos Transformers G1 Apeface e Menasor.
A parte dos propulsores eu simplesmente pintei de vermelho (já que os adesivos originais também se perderam há muito tempo e eu não tinta parâmetros de referência melhores). Assim, eles perderam a característica de propulsores e agora se parecem mais com faróis traseiros, os quais inexistem na versão original (o que é muito estranho, por ser um carro cheio de detalhes).
Os faróis dianteiros foram repintados, mas só a parte branca. Essa parte também foi fácil. Os para-brisas tiveram de ser lixados à exaustão e receberam camadas sucessivas de verniz até que ficassem bons.
Na parte inferior eu resolvi realçar os detalhes do "motor" do veículo e, como essa era uma das partes mais desgastadas, resolvi usar um pouco de betume para "sujar", tornando essas peças mais parecidas com as de um automóvel real, ou seja, desgastadas, impregnadas de óleo, fuligem, poeira, etc.
O interior da cabine foi um terrível pesadelo. Parece relativamente simples pintar os bancos e alguns detalhes que o original não possui, mas esses pequenos detalhes tiveram de ser refeitos dezenas de vezes. Nessa parte da cabine comecei a perceber um problema que eu iria enfrentar no momento de aplicar o verniz automotivo na parte superior e inferior da lataria do batmóvel: quando eu aplicava o verniz brilhante de um lado, o outro ficava opaco. Se eu começava de cima, na hora de envernizar a parte de baixo, aquela parte superior que eu havia acabado de envernizar ficava fosca. O batmóvel é uma peça muito grande e muito larga para um aerógrafo pequeno. Eu acredito que o ideal seria ter um revólver de tinta para ter um jato de verniz mais amplo e que levaria mais tempo para secar. No meu caso, a solução foi aplicar camadas grossas de verniz, indo e voltando por todos os lados (e recarregando o aerógrafo rapidamente) para fazer com que a camada só começasse a secar quando eu realmente notasse que toda a superfície das peças estava brilhante e recoberta com essa camada grossa de verniz.
Eu escolhi um tom de azul perolizado mais escuro que o original. O preto do capô também é perolizado. Gosto muito do efeito que as pinturas com tinta perolizada permitem (um certo brilho dentro da própria cor). Esse tom de azul é mais sóbrio e se encaixa bem no modelo do veículo e na época em que ele foi usado. Se bem me lembro, pouco antes da Crise nas Infinitas Terras (1980-1986) esse era o modelo de batmóvel usado pelo Batman e nele já se nota um distanciamento daquele modelo clássico dos anos 60 e uma evolução do modelo usado durante os anos 1970. O Batman ainda não é "o Cavaleiro das Trevas", mas suas histórias nesse período apresentam um tom mais sério, sombrio, melancólico. A época das piadas e do non sense já havia sido deixada para trás. Obviamente, se a intenção fosse apenas restaurar, a cor utilizada teria de ser mais clara. Contudo, desde o início a minha visão para o projeto era fazer algo diferente, portanto me considero realizado com o resultado final.
E por falar em resultado final, ei-lo:
Gostaria de dedicar esse trabalho à minha noiva. Esse é mais um desafio superado na nossa história. =)
E também agradeço a todos aqueles que me incentivaram a continuar apesar das dificuldades, aos meus familiares pela paciência e, principalmente, aos leitores pelo interesse.