Batman # 100
Pela primeira vez em décadas, a Revista do Batman chega à marca de cem edições publicadas no Brasil, feito que, antes da Panini, só havia sido obtido pela antiga editora Ebal.
Enfim, era para ser uma edição comemorativa e tals, mas as histórias do Tony Daniel estragam o humor de qualquer leitor.
E por falar nelas, essa edição se inicia justamente com a continuação da trama que Daniel criou com o Máscara Negra. Batman aparece quase desacordado e muito ferido no Porto de Gotham e é resgatado por Damian. Aos poucos, ele vai se lembrando de que esteve sob o controle do Pinguim e do Chapeleiro Louco e atacou diversos desafetos dessa dupla, incluindo a Mulher-Gato e Kitrina, além do próprio Máscara Negra. E justamente durante o confronto com este último vilão, Batman é alvejado por diversos tiros disparados pelo Máscara. E as balas no colete do Batman são a pista final para a identidade do chefão de Gotham.
Com a ajuda da Mulher-Gato e de Kitrina (que passou a ser uma espécie de "aprendiz-parceira" de Selina), Batman consegue obter a localização do esconderijo do Máscara Negra e invade o Quadrado do Demônio juntamente com uma equipe (chamada "a rede"), que inclui Batwoman, Pantera, Katana, Caçadora, Robin Vermelho, Morcego Humano, Retalho e talvez outros personagens que o Daniel teve preguiça de desenhar. =P
Para resumir, Dick confronta o Ceifador, mas não consegue prendê-lo, porque tem assuntos mais urgentes a resolver com o Máscara. E após uma longa luta que deveria ter sido vencida facilmente, Batman finalmente derrota o Máscara Negra, que na verdade é... o Dr. Jeremiah Arkham.
Sim, isso mesmo. Este deveria ser um momento dramático, mas a trama foi tão mal construída que praticamente não há nenhum "impacto" nessa revelação. O médico que durante tantos anos tratou dos piores doentes mentais de Gotham é agora um deles. E é isso.
Tony Daniel nem sequer se preocupou em explicar qual o interesse do Dr. Hugo Strange, ou do Dr. Morte em ajudar o Máscara Negra. Aparentemente, ambos simplesmente se contentaram em auxiliar Arkham em seus planos e dividir o espólio. Isso demonstra claramente como a trama foi mal-conduzida. E a má-notícia é que
Na sequência há duas histórias curtas, feitas por equipes criativas praticamente desconhecidas. Ambas tentam explorar melhor a relação entre Dick e Damian, assim como o "bom-samaritanismo" de Alfred. Não há nada de relevante nelas e por isso vou poupá-los da chatice.
E por fim, temos a história "O Tempo e o Batman", assinada por Grant Morrison.
Esta história foi feita como forma de homenagem ao número 700 da revista Batman nos EUA. Nela, Morrison utiliza todos os Batmen com quem já trabalhou: Bruce Wayne, Dick Grayson, Damian Wayne, Batman de "DC 1.000.000" e, ainda, Terry McGinnis (do desenho Batman do Futuro). O engraçado é que muitas pessoas que leram essa história fizeram resenhas bastante superficiais, talvez porque não tenham conseguido entendê-la satisfatoriamente.
Grant Morrison usa um recurso fantástico (para variar), no caso, uma máquina extraordinária, como um elo de ligação entre diferentes versões do Batman, através do tempo. Essa é sua forma de render tributo a um personagem tão querido por ele e por milhões de leitores ao redor do mundo. Como de costume, não há uma explicação direta, "mastigada" para o leitor. Pelo contrário, o entendimento dos fatos decorre da atenção aos pequenos detalhes e pistas deixados pelo caminho (ou seja, do jeito que o escocês gosta).
A trama começa (provavelmente) no início da carreira da dupla-dinâmica original (Bruce Wayne e Dick Grayson), sendo que o Batman é (propositalmente?) caracterizado de forma bastante semelhante ao do seriado dos anos 1960. Bruce e Dick são reféns do Coringa, Charada, Mulher-Gato e outros vilões, que se utilizam de um equipamento fantástico chamado "Máquina Talvez". Essa máquina foi criada pelo Professor Carter Nichols e ela permite que uma pessoa possa vislumbrar como fatos poderiam ter ocorrido, se a história não houvesse seguido seu curso "normal". A Máquina permite inclusive um tipo de transferência temporal. O plano do Coringa é simples: ele pretende voltar no tempo, até o momento exato em que o Batman foi "criado" (ou seja, o momento em que os pais de Bruce são mortos) e apagá-lo da existência. Como era de se esperar, Batman e Robin conseguem derrotar os vilões e resgatar o Professor Nichols, mas um detalhe importante é a menção sobre o "livro de piadas do Coringa" (um registro de anotações, planos e pensamentos insanos).
Corte para o presente. Dick e Damian são chamados pelo Comissário Gordon ao laboratório do Prof. Nichols. O cientista aparentemente foi baleado dentro de uma sala fechada por dentro e, estranhamente, aparenta ser muito mais idoso do que deveria ser. E ao lado do corpo, é encontrada a Máquina Talvez. O caso parece aparentemente sem solução, mas Dick aposta em suicídio. O detalhe é a participação "especial' dos Mutantes, a gangue de rua que, na série "O Cavaleiro das Trevas" domina Gotham City.
Há outro corte para o futuro, onde Damian já é adulto e se torna um Batman muito mais violento e sem as "restrições morais" de seu pai. Damian enfrenta o Duas-Caras do futuro, que ameaça a cidade com uma poderosa toxina e está interessado no livro de piadas do Coringa. O interessante é que, ao lado do Duas-Caras, está o Prof. Nichols, inconsciente, mas ainda vivo.
Durante o embato com o Duas Caras, Batman tem de se preocupar com uma criança, mantida como refém e, inesperadamente, recebe o auxílio de uma segunda versão do Prof. Nichols, mais jovem do que aquele que está ao lado do Duas Caras. O Prof. Nichols "mais jovem" esclarece que se ressentia pelo fato do Batman (Wayne) ter sido torturado psicologicamente pelos vilões (na primeira parte) e, por isso, estava viajando pelo tempo para consertar todos os desdobramentos históricos da Máquina Talvez, inclusive retornando ao passado e destruindo os esboços que deram origem à sua criação e assassinando sua versão do futuro (a idosa). O Prof. Nichols "mais jovem" troca de lugar com sua versão mais velha (por isso ela aparece no "presente" de Dick Grayson) para poder viajar pelo tempo. O livro de piadas do Coringa acaba sendo consumido pelo incêndio que se segue no esconderijo do Duas-Caras II.
Há um novo corte para o futuro e vemos vários Batmen diferentes, como Terry Mcginnis e o Batman de "DC 1.000.000", mostrando que o Legado do Morcego se perpetua pela história. Essa é uma bela homenagem de Morrison a um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos. Aliás, quando se fala em heróis, é incontestável que os dois maiores personagens já criados são justamente Superman e Batman. É uma pena que a Warner/DC não dê um tratamento digno às suas duas maiores criações e, justamente por isso, tenha que amargar a segunda posição em vendas há muitos anos.
Para fechar a revista, há uma galeria de capas de vários artistas, incluindo Bill Sienkiewicz e informações sobre a batcaverna.
E aproveito para anunciar uma mudança no formato das resenhas. Eu percebi que, no decorrer dos posts, passei a resumir as histórias e fui gradativamente deixando a análise crítica delas em segundo plano. De certo modo, me senti obrigado a narrar os fatos para justificar alguns argumentos, mas não devo prosseguir nessa linha. Então, da próxima vez, teremos um review diferente e, certamente, mais "enxuto".