domingo, 5 de junho de 2011

Thor




Thor Odinson. Senhor do Trovão e mestre da Tempestade. Deus nórdico, filho e herdeiro do soberano Odin ao trono de Asgard. A ele foi dedicado o quinto dia da semana (Thursday em inglês e Torsdag, em dinamarquês e norueguês).

E as semelhanças do deus mitológico com a personagem de quadrinhos criada por Jack Kirby, Larry Lieber e Stan Lee páram por aí. Muitos críticos (e possivelmente muitos espectadores) fizeram comentários negativos sobre a película, justamente por ignorar que o herói apresentado nas telas não é a representação do deus mitológico, mas sim a da personagem de HQ´s. E compreender isso é importante, porque há grandes divergências entre ambos.


Quando se trata de adaptar quadrinhos para o cinema, há três caminhos possíveis: o primeiro é alterar quase completamente o personagem; o segundo é fazer a versão cinematográfica o mais fiel possível aos quadrinhos e, a última, mesclar elementos dos quadrinhos com características novas. Não por acaso, a terceira possibilidade é a mais usada em Holywood. Executivos adoram "dar pitacos" na produção, principalmente porque acham que suas "sugestões" vão potencializar o retorno financeiro dos filmes.


E este foi o caminho que a Marvel seguiu para o filme do Thor. A versão do cinema agrega elementos do herói criado na década de 1960, características da versão Ultimate e alguns detalhes novos (por exemplo, o fato da deusa Frigga ser a possível mãe de Thor, ao invés de Jord). 


Mas quando o roteirista faz isso, ele precisa apresentar as personagens e conceitos com certa clareza, ou a maioria dos espectadores não entenderá nada. Por exemplo: no filme os asgardianos são alienígenas. Eles ajudaram a humanidade no passado e, devido às suas excepcionais habilidades, foram confundidos com deuses. Os asgardianos dispõem de uma tecnologia avançadíssima, a ponto de criar um mecanismo de transporte (a ponte Byfrost, ou do Arco-ìris) para outros mundos. 


ENTÃO POR QUE DIABOS ELES USAM CAVALOS?????


Sim, essa incoerência incomoda, apesar do fato dos asgardianos também usarem cavalos nos quadrinhos. Mas como eu disse acima, o estúdio optou por mesclar o Thor clássico com o Ultimate e, sendo assim, poderia ter "corrigido" certas inconsistências... afinal não estamos mais na década de 60

Tentei assistir o filme não como um leitor de HQ´s, mas sob a perspectiva de uma pessoa que nunca leu um gibi do Thor na vida. E me impressionei com a falta de cuidado dos roteiristas nesse sentido. Em nenhum momento se explica o que é o "sono de Odin"*, por exemplo. As inter-relações entre personagens são muito rasas - pra dizer o mínimo - e o público não compreende porque alguns personagens agem de uma forma ou de outra. 


De fato, os Gigantes do Gelo são uma raça cruel, que pretende dominar os mais fracos, assim como os humanos fazem entre si, desde a antiguidade. Mas Odin é bom e defende a raça humana... porque sim.  =P


Sério, a falta de motivação também se estende a Loki, cujo intérprete (Tom Hiddleston ) não soube construir um vilão notoriamente conhecido por suas trapaças. O Loki ideal deve ser ambíguo, manipulador, traiçoeiro e mentiroso. Mas tudo isso de forma dissimulada. E não é isso que vemos no filme. A princípio Loki aparenta ser bom, depois há uma mudança radical, sem transições (e muito mal explorada, por sinal). Consequentemente, a personagem perdeu o rumo. Faltou malícia na interpretação do vilão, assim como faltou mais empenho por parte dos roteiristas.


E por falar em interpretação, Chris Hemsworth até que dá conta do recado (como Thor), mas pra mim, a versão dele é "sorridente" demais (encarar novos desafios com um sorriso no rosto é algo típico do Lanterna Verde, não do Thor!). E mais uma vez, Antony Hopkins parece não ter se esforçado muito em seu papel de Odin. Embora veterano, Hopkins simplesmente usou o estereótipo de "velho sábio", como em Alexandre, o Grande e tantos outros filmes. Sua participação, portanto, nada teve de especial.


Mas se houve falhas no roteiro e na interpretação de personagens, também houve acertos, como a direção de Kenneth Branagh. Sou fã declarado de TODAS as adaptações das peças de Shakeaspeare feitas pelo Branagh. Por isso sabia que, como diretor, seu trabalho não deixaria a desejar. Ele fez corretamente seu trabalho (apesar do roteiro ruim) e merece crédito por isso. A trilha sonora também é ótima e até que o figurino não ficou tão espalhafatoso quanto se imaginava, no início da produção do filme.

Confesso que não gostei das cenas de voo de Thor e fiquei um tanto constrangido com elas, assim como no "momento de catarse", quando o herói recupera seu martelo.


A bem da verdade, o estúdio da Marvel não conseguiu fazer um filme tão divertido quanto os dois primeiros do Homem de Ferro. E uso a palavra "divertido" porque não considero os filmes estrelados por Robert Downey Jr. bons. Pelo menos, não tão bons quanto os dois primeiros filmes do Homem-Aranha, produzidos pela Sony. E nem quero fazer comparações com Batman - The Dark Knight, pra não humilhar.   =P


Então o que dizer? Bem, eu não assistiria de novo. Nota 6.






* Sono de Odin. Nos quadrinhos, Odin é um ser extremamente poderoso e a utilização desses poderes consome grandes quantidades de energia. Por isso, de tempos em tempos,  ele necessita restaurar suas forças, permanecendo inerte, como se estivesse adormecido, por um determinado período.

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