terça-feira, 22 de março de 2011

O Discurso do Rei







"O Rei está morto. Vida longa ao Rei!"

Não é fácil ser Rei do Império Britânico a partir do século XX. Os avanços tecnológicos (como  o rádio) e as subsequentes transmissões feitas à longa distância contribuíram para aproximar os Chefes de Estado do "cidadão comum". E essa "aproximação" se tornou fundamental durante as duas Grandes Guerras. Os pronunciamentos dos líderes eram muito aguardados, tanto para encorajar seus povos, quanto para transmitir informações sobre o destino das nações.

Era o início de uma era onde a privacidade dos governantes seria paulatinamente mitigada, até praticamente deixar de existir (como notamos hoje).

O Discurso do Rei é ambientado nos anos finais do reinado de George V (Michael Gambon), quando paira sobre a Europa o temor de uma segunda guerra mundial. George V tem dois filhos: David (o mais velho, vivido por Guy Pearce) e Albert (Colin Firth). David leva uma vida boêmia e totalmente irresponsável, enquanto Albert seguiu uma disciplinada carreira militar e tenta superar um problema sério para uma figura pública: a gagueira. O discurso do príncipe Albert no estádio de Wembley torna claro que o problema tem de ser solucionado, pois um membro da Família Real deve falar com clareza a seus súditos para inspirar-lhes confiança e coragem.

Albert recorre a vários médicos, sem sucesso, até que sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), sai a procura de um profissional que lhe havia sido recomendado: Lionel Logue (Geoffrey Rush), especialista em problemas da fala. E é no momento em que Geoffrey Rush entra em cena que a mágica do filme começa a funcionar. Sua interpretação do personagem é tão consistente, tão real, que é praticamente impossível ao espectador não simpatizar com sua personagem. 

Logue começa a ajudar Albert com métodos bastante estranhos e pouco ortodoxos, mas que se revelam eficientes. Aos poucos, descobrimos que o problema de Albert (ou "Bertie", como é chamado por seus familiares e também por Logue) tem origens psicológicas e é uma consequência de uma infância problemática.


Na verdade, Albert é um típico aristocrata inglês, com sua frieza, mau-humor, arrogância e formalismo. Mas  todas essas características negativas são resultado das restrições e da rigidez com a qual fora tratado desde criança. Aliás, o fato de ser um príncipe não o livrou de sofrer maus-tratos de sua babá, que lhe causaram problemas de estômago por toda a vida.


Confesso que achava que o filme iria abordar mais o contexto da Segunda Guerra Mundial, mas me enganei. O foco é a vida privada dos membros da realeza e isto foi um grande acerto. Há momentos de humor e momentos muito tristes, como acontece na vida cotidiana de qualquer um. Um drama envolvente, que soube humanizar grandes figuras históricas e, sem dúvida alguma, mereceu todos os prêmios que recebeu.


O filme mostra que, ao contrário do que a maioria de nós pensa, a vida de um príncipe pode não ser regada a luxos e prazeres. Ter um único amigo para lhe fazer companhia nos momentos difíceis, ou casar com quem se ama, podem ser privilégios exclusivos do "cidadão comum".


Aos poucos Albert cria um vínculo de amizade com Logue; vínculo este que iria perdurar por toda a vida de ambos. E na história dessa amizade reside a beleza do filme. Pode-se dizer que essa é a história do plebeu que ajudou um príncipe a se tornar um grande Rei.


O Discurso do Rei é melhor compreendido após um estudo do período histórico e das personagens envolvidas (George V, Eduardo VIII, George VI, Winston Churchill). Albert, ou George VI (nome que assumiu ao subir ao trono) é pai da centenária Rainha Elizabeth II (que inclusive aparece no filme, junto com sua irmã, princesa Margaret). 


O fato é que, apesar da Inglaterra impor ao mundo uma política colonialista que desrespeitou diversas culturas e povos durante séculos, ela foi o único país europeu que conseguiu combater a Alemanha nazista de Hitler com certa eficiência. A Inglaterra conseguiu resistir até 1943, quando os americanos finalmente acordaram de sua letargia e entraram no conflito. E se hoje o mundo inteiro não é dominado pelo nazismo, nós devemos isso à bravura dos ingleses e de seus líderes, como George VI, Winston Churchill e, por que não, de pessoas simples, como o sr. Lionel Logue.


Grande filme! Altamente recomendado! =D

Um comentário:

  1. Oi Edson!
    Comecei e ler o livro esta semana. Se eu estava com vontade de ver o filme, depois do seu post fiquei com mais vontade ainda!

    Bom gosto.

    Beijos,

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