quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2



Todo mundo diz que é muito difícil uma sequência ser melhor do que o filme original, mas José Padilha conseguiu essa proeza. Muitos atores do primeiro filme voltam afiados em seus respectivos papéis. É legal ver de novo as malandragens do sargento (agora comandante) Fábio, ou o angustiado tenente-coronel Nascimento (sim, ele também foi promovido).

Wagner Moura faz uma atuação que não poderia ser descrita de outra forma senão brilhante. Sua personagem está mais velha, visivelmente mais abatida (por conta de seus problemas pessoais), mas continua à frente de seu batalhão no BOPE, conduzindo os esquemas táticos, e não mais em campo. Posteriormente, Nascimento passa a ocupar o cargo de sub-secretário de segurança pública do Rio de Janeiro.

Muitos achavam que Tropa de Elite 2 seria mais um filme de ação, com policiais estereotipados combatendo bandidos igualmente estereotipados. Nada mais distante da realidade. Assim como seu antecessor, esse filme é um soco na cara do telespectador. Contudo,  "o inimigo agora é outro" e o foco não está mais no tráfico ou nas críticas contra a classe média alta que sustenta o mercado de drogas no país.  José Padilha mira sua arma contra a corrupção em todas as esferas da política nacional.

De forma simples e direta, o filme descreve como as milícias ocuparam o lugar dos traficantes no comando dos morros do Rio, bem como, a estreita relação entre essas milícias e a classe política. Para os políticos, a marginalidade não é algo a ser combatido, mas sim a ser manipulado a favor de seus próprios interesses. Convém lembrar que o filme é ambientado durante a época em que Anthony Garotinho era governador do Rio e em cujo mandato as milícias iniciaram suas operações. Aliás, não parece ser coincidência que o sobrenome do governador no filme (Gelino) tenha as mesmas letras (inicial e final) do sobrenome do ex-governador citado.

É chocante ver como a opinão pública é manipulada por um deputado estadual, aliado do governador que, na frente das câmeras, parece fazer críticas severas e advertências a Gelino, mas, na verdade, o "deputado-apresentador" está apenas preparando o terreno para que a mídia e a audiência  de seu programa apóiem as ações planejadas para controlar os morros (com as extorsões e  violência das milícias), garantindo assim grande popularidade e votos.

As milícias de policiais não são grupos de justiceiros. Eles não pretendem estabelecer ou restabelecer a ordem. O verdadeiro objetivo é continuar explorando os moradores dos morros dominados, extorquindo dinheiro para financiar as mais diversas atividades criminosas e até mesmo a campanha de reeleição do governador. Este, por sua vez, faz vista grossa ante as atividades das milícias, o que garante verdadeiras fortunas aos policiais corruptos. 

Há uma nova personagem em cena, que personifica a antítese do Coronel Nascimento: Fraga, um típico professor universitário de História, socialista e defensor dos direitos humanos. Ele também é parcialmente responsável pelos desdobramentos nefastos do filme e se aproveita da repentina popularidade em proveito próprio, assim que a oportunidade aparece. Fraga vai descobrir que não é possível denunciar todo o esquema de corrupção, pelo menos não sozinho. Particularmente acho que essa personagem se parece muito com Aldo Rebelo, um político que posou de santo durante muitos anos e que, agora, apresenta um projeto de Código Florestal que, se aprovado, irá permitir uma devastação ambiental sem precedentes. 

E é bom se lembrar disso, quando estiver à frente da urna, no próximo domingo ou nas próximas eleições.

O discurso final do Coronel Nascimento na Assembléia Legislativa do Rio ou sua narrativa enquanto a câmera percorre Brasília formam uma análise fria, sinistra e perturbadora, embora precisa, da situação política nacional e da corrupção que assola nossas instituições.  

Sem dúvida é um filme que todo brasileiro deveria assistir, por dever cívico. Tropa de Elite 2 é o melhor filme nacional que já assisti e, com certeza, irei vê-lo novamente, assim que possível. Nota 10! 





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