segunda-feira, 12 de julho de 2010

Customização: uma experiência pessoal

Eu não sou um modelista. Não tenho conhecimentos profundos sobre aerografia e tampouco fiz cursos ou li livros específicos sobre arte e pintura. Tudo o que aprendi até hoje foi na base da "tentativa e erro" e o objetivo aqui é trocar conhecimentos e experiências sobre os customs.

Sou apenas um iniciante e certamente é possível encontrar centenas de pessoas que dominam o aerógrafo melhor do que eu numa busca rápida pela net. Nos EUA e na Ásia existem muitos caras talentosos com trabalhos fantásticos com
action figures diversos e Transformers. Mas aqui no Brasil não conheço muitas pessoas que façam customização com Transformers ou, melhor dizendo, não com qualidade comparável àquela que se encontra no exterior.

O que eu faço é customização, não modelismo. E qual é a diferença? O modelista, em regra, é aquele que compra "kits" com miniaturas de automóveis, aviões, navios, dentre outros objetos, para recriá-los em escala reduzida. Normalmente, as peças desses kits veem separadas e precisam ser lixadas, montadas, coladas e pintadas. É um trabalho complexo, que envolve certa habilidade, estudo e dedicação (principalmente porque o objeto ou veículo é reproduzido da forma mais realista e detalhada possível, dentro de seu período histórico). A
customização pode ser definida como uma adaptação, um aprimoramento, alteração ou ainda, uma personalização do objeto.

Os dois tipos de customização mais comuns são o
kitbashing e a pintura. O primeiro envolve a alteração, criação ou substituição das peças originais do item (um carrinho, um avião ou, no caso, do Transformer) e assim distinguí-lo dos demais, pelo seu formato ou modelo únicos. Já a pintura se limita a alterar o esquema de cores do objeto, distinguindo-o da peça original, seja para aprimorar a pintura, seja para criar, com as cores, um personagem diferente ou novo.

Confesso que não tenho talento para o kitbashing, embora admire meus amigos que conseguem esculpir peças, ou mesmo adaptá-las com sucesso para utilizá-las em suas customizações. No meu caso, prefiro me limitar à pintura e às diversas possibilidades que ela oferece.

Frequentemente as pessoas me perguntam o que é necessário para começar a customizar brinquedos ou
action figures. Por isso, gostaria de apresentar aqui algumas dicas - baseadas em minhas experiências - para aqueles que desejam fazer seus customs.

Kit básico de sobrevivência - Para fazer customizações de pintura, é necessário ter:



1. Compressor de ar. Não é necessário um compressor profissional ou industrial. É possível fazer os trabalhos com os modelos de "ar direto", que são mais baratos, mas aconselho adquirir um modelo com reservatório, com pelo menos 25 litros. Os compressores de ar direto tem de ser utilizados por, no máximo uma hora e permanecer "em descanso" por pelo menos dez minutos, para evitar danos ao equipamento. Já os compressores com reservatório não possuem esse empecilho e podem ser utilizados por horas a fio. Muitos modelos de compressores não demandam manutenção constante, mas apenas uma troca de óleo a cada seis meses.



2. Aerógrafo. Existem diversos tipos de modelos no mercado. É uma ferramenta pneumática, como se fosse uma mini-pistola de ar para expelir a tinta de forma uniforme sobre o objeto. Para fazer customs, não é preciso ter um aerógrafo de primeira linha, mas aconselho comprar um modelo que tenha ponta (bico) entre 0,30 milímetros e 0,35 milímetros. Esse tamanho da ponta permite pintar peças pequenas e médias (como em geral são as peças de brinquedos e kits), usando as mais variadas espécies de tintas e vernizes. Esse é um equipamento que demanda certo cuidado, principalmente em seu manuseio, porque sua manutenção e substituição de peças costuma ser bastante onerosa. O aerógrafo deve ter uma mangueira de, pelo menos 2,5 m (dois metros e meio) e os engates ou roscas para acoplá-lo ao compressor.



3. Lixas. Antes de pintar, é necessário retirar as rebarbas e imperfeições (ou pelo menos minimizá-las). A tinta não esconde ou recobre defeitos, por ser aplicada em uma camada muito fina. Por isso o lixamento deve ser bem feito, já que ele irá garantir um melhor acabamento e, muitas vezes, evitar que as peças do objeto raspem entre si ou produzam atrito, o que irá comprometer a pintura. Para a customização, é importante ter pelo menos três tipos de lixas: 320 ou 400 (para grandes imperfeições), 600 (para imperfeições moderadas) e 1.000 ou 1.200 (para acabamentos). Sempre que utilizar uma lixa 320, 400 ou 600, é aconselhável lixar o local também com a 1.000 ou 1.200, pois essas últimas ajudam a disfarçar os riscos provocados pelas lixas mais grossas e deixam a superfície do objeto mais lisa e homogênea.



4. Tintas. Há diversos tipos de tintas que podem ser utilizadas para pintar objetos plásticos. As mais comuns são a do tipo "Duco" e a "poliéster". Pessoalmente prefiro a poliéster, porque ela dispensa diluição e tem secagem rápida, além de um bom acabamento. Antes de aplicar a tinta, sempre pulverizo os objetos com seladora para plástico. A seladora ajuda a criar uma camada uniforme na superfície e melhora consideravelmente a aderência da tinta. Tanto as tintas Duco e poliéster quanto a seladora podem ser encontradas em lojas que vendam tintas automotivas. Ainda sobre a tinta poliéster, após sua aplicação, é necessário pelo menos um demão de verniz automotivo, para proteger a tinta e conferir a ela um efeito brilhante. Fiz alguns testes com vernizes foscos encontrados em papelarias e também obtive bons resultados.



5. Pincéis. Nem todos os objetos e peças a serem customizados podem ser pintados com o aerógrafo. Às vezes torna-se necessário dar acabamento ou retocar com pincéis. Por esse motivo, é importante ter pincéis de vários tipos e tamanhos, desde as pontas mais finas até as mais grossas, porque existem pincéis próprios para cada tipo de trabalho.



6. Verniz Vitral e Esmalte vitral. O verniz vitral serve para se pintar objetos translúcidos, com a finalidade de reproduzir vidros de automóveis com "insulfilm", ou lanternas de automóveis, por exemplo. O esmalte vitral, por sua vez, confere um efeito semelhante, mas sem deixar o objeto translúcido. Após a secagem, o esmalte apresenta um aspecto leitoso. Portanto, para fins de customização, o verniz vitral é muito mais utilizado, já que o esmalte pode ser substituído pela tinta Duco ou poliéster.


7. Diluidores. Algumas tintas usadas para modelismo e customização precisam ser diluídas. É o caso, por exemplo, do verniz vitral, citado no item anterior. Esse verniz deve ser diluído em solvente específico (preferencialmente da mesma marca que o verniz), com proporção de aproximadamente 70% (setenta por cento) de solvente e 30% (trinta por cento) de verniz. Não recomendo a utilização de thinner, acetona ou removedor de esmaltes em peças plásticas, pois essa substâncias costumam agredir o plástico e podem comprometer todo o trabalho. Para aqueles que pretendem obter um efeito de envelhecimento ou sujeira nas peças, utiliza-se o betume, que é diluído em aguarrás mineral, na proporção de 80% (oitenta por cento) de aguarrás e 20% (vinte por cento) de betume. Atenção: é altamente aconselhável realizar testes prévios tanto para as tintas quanto para os diluidores e, assim, evitar danos aos objetos a serem customizados.


8. Fita adesiva. Nem sempre o objeto ou peça vai ser pintado com uma única cor. Por isso, após a aplicação da seladora e da tinta, deve-se proteger (ou, como dizem, "mascarar") algumas partes para se utilizar uma segunda ou terceira tintas com fita adesiva. A fita deve aderir totalmente à superfície do objeto, pois, do contrário, o ar e a tinta do aerógrafo irão penetrar pelo vão entre a fita e a parte que deveria ser protegida, o que irá estragar o trabalho e obrigar o customizador a repetir toda a operação de pintura.



9. Pinças. Essas ferramentas são muito úteis devido à sua grande versatilidade. Podem ser usadas no processo de montagem e desmontagem dos objetos ou para segurar peças que estão sendo pintadas (por uma parte ou face do objeto que está sendo protegida com fita, obviamente). Podem ser encontradas com facilidade nas grandes perfumarias.





10. Máscaras para pintura. Esse é um equipamento essencial para quem trabalha com aerógrafo, porque muitas tintas contém partículas de minerais que podem ser inalados. E uma vez instalados no organismo, esses minerais podem provocar sérios danos à saúde.




Outros requisitos:

1. Paciência. Para ser modelista ou customizador é necessário ter muita paciência. Nem sempre o trabalho é bem sucedido e, invariavelmente, será necessário refazê-lo várias vezes ou retocar peças já na fase final de acabamento. Isso é normal e a pessoa deve manter a calma. Nunca faço um trabalho com o aerógrafo se não estiver realmente disposto, porque essa atividade deve ser prazerosa e não mais uma fonte de stress.

2. Dedicação. No início pode ser difícil, mas a prática constante e o aperfeiçoamento de técnicas ajudam a obter melhores resultados.


3. Tempo e local adequados. Caso não tenha ficado evidente até aqui, a customização demanda muito tempo (no meu caso, meses) e também não pode ser feita em qualquer ambiente. Quem mora em apartamento não pode instalar um compressor em casa, seja pela falta de espaço, seja pelo considerável barulho produzido pela máquina. O trabalho de customização deve ser feito em um ambiente arejado e com boa claridade.

4. Habilidade. Não adianta enganar. Como todo trabalho manual, é preciso ter certa habilidade para trabalhar com pincéis e o aerógrafo. A habilidade pode ser adquirida com o tempo e a prática, mas a pessoa deve ter o mínimo de aptidão.

5. Imaginação. Para o customizador que dispõe de todos os recursos acima, também é imprescindível ter imaginação para pensar, desenvolver e criar. Há muitas possibilidades e variáveis de esquemas de cores para um único objeto e a imaginação é o limite para qualquer tipo de trabalho. Em outras palavras, a qualidade do custom dependerá tanto da habilidade no acabamento do item quanto da originalidade do projeto e isso depende diretamente da capacidade de desenvolver uma idéia e colocá-la em prática.


Estes são, basicamente, os materiais e requisitos mínimos para se começar a customizar objetos. Muito embora seja verdade que algumas pessoas consigam obter bons resultados utilizando tintas spray ou utilizando tintas de plastimodelismo e pincéis para customs parciais ou totais, os trabalhos de melhor qualidade demandam os equipamentos e ferramentas que descrevi. Espero que esse artigo ajude a orientar aqueles que se interessam pelos customs e desejam começar a fazê-los. Bom divertimento! =D

2 comentários:

  1. Simplesmente, parabéns pelo excelente blog.

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  2. Parabéns cara, excelente, gostei de mais de todo o blog, sobretudo deste artigo. Quem sabe sabe, mas quem sabe e ensina domina.

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